Resenha: O Desaparecimento de Josef Mengele, um romance verdade de Olivier Guez


O médico nazista da SS, Josef Mengele, conhecido como Anjo da Morte por seus feitos macabros e por ser responsável por um grande número de mortes nos centros de concentração em Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial simplesmente desapareceu. Depois de conseguir se livrar das acusações nos tribunais, Mengele partiu para a América do Sul refugiando-se na Argentina para depois morrer aqui no Brasil em 1979.

Em O Desaparecimento de Josef Mengele o jornalista Olivier Guez narra um romance verdade, ou seja, utiliza fontes e histórias reais para construir o enredo e nos guiar pela trajetória do sádico médico pela Argentina, Peru, Paraguai e, for fim, Brasil. Temendo ser preso, Mengele iniciou sua fuga driblando a autoridade internacional sem nunca sequer demonstrar arrependimento pelo que fizera. Para ele, seus trabalhos e a fanática ideologia de uma população ariana era o correto e caracterizava seu forte sentimento de patriotismo.

"Ele acha que mandar centenas de milhares de judeus para a câmara de gás é um dever patriótico. No galpão de experimentos do campo cigano, 'são efetuados, em anões e gêmeos, todos os exames médicos que o corpo humano é capaz de suportar. Extrações de sangue, punções lombares, trocas de sangue entre gêmeos, incontáveis e cansativos exames, in vivo'. Para o estudo comparativo dos órgãos, 'os gêmeos devem morrer ao mesmo tempo. Assim eles morrem num dos galpões de Auschwitz pelas mãos do doutor Mengele'."

Apesar da história ter sido real, do livro ter sido escrito por um jornalista e, nas últimas páginas, apresentar uma extensa lista de referências bibliográficas, "O Desaparecimento de Josef Mengele" não é uma biografia do mesmo. Enquanto eu lia, tive a sensação de estar assistindo a um documentário ou lendo uma matéria detalhada de jornal sobre o caso, não só pelo estilo da narrativa  que mesmo jornalística trouxe uma dramatização interessante  mas também pela riqueza de detalhes e pela notoriedade do trabalho do pesquisa do autor. 

"Mengele é o príncipe das trevas europeias. O médico orgulhoso dissecou, torturou e queimou crianças. O filho de boa família mandou, assobiando, quatrocentos mil homens para a câmara de gás. Por muito tempo, julgou safar-se impunemente, ele, 'o homúnculo de lama e fogo' que se tornara por um semideus, que pisoteara as leis e os mandamentos e infligira sem compaixão tantos sofrimentos e tantas tristezas nos homens, seus irmãos."

Para quem gosta do tema e tem curiosidade para saber mais sobre a Segunda Guerra Mundial, a leitura do livro está mais do que recomendada. A edição da Editora Intrínseca conta com 223 páginas e excelente diagramação: confortável e espaçada. Minha única observação é para quem não está acostumado com textos de linguagem jornalística, já que a experiência de leitura  ao meu ver  é bem diferente nesses casos e pode causar um pouco estranheza no início. Todavia, se o tema for do interesse do leitor, com o passar das páginas a leitura vai ficando cada vez mais interessante. O Desaparecimento de Josef Mengele ganhou prêmio Prix Renaudot em 2017, uma das mais importantes premiações literárias da França.


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