Resenha: A Cabeça na Cama, de Filipe Nassar Larêdo

O que você faria se uma cabeça aparecesse na sua cama?

Uma cabeça sem corpo, sem nome e sem explicação?

A Cabeça na Cama conta a história de Tomás, um homem de negócios que vê a vida descer ladeira abaixo depois do misterioso aparecimento de uma cabeça em sua cama. Mas será mesmo que foi a cabeça que desencadeou o fracasso de Tomás?

O homem vivia para o trabalho, era esposo e pai ausente e toda a sua fortuna veio não somente de muito trabalho e esforço, mas também da falta de escrúpulos e alto poder de persuasão. Egoísta, egocêntrico e cada vez mais afundado no mundo das aparências, Tomás jamais imaginaria que uma cabeça (justo uma cabeça!) seria capaz de despertar tanto apego e aversão ao mesmo tempo.

O livro me pegou logo na primeira frase. No final do prólogo eu já estava fisgada e concluí a leitura em menos de 24 horas. A escrita do Filipe Nassar Laredo cativa e tem um toque de aproximação com o leitor que me jogou dentro do quarto entre Tomás e a cabeça num piscar de olhos. A estrutura da narrativa é das minhas favoritas: aquela em que o narrador-protagonista te conta uma história jurando que não é louco, que todos os fatos ali descritos são verdadeiros e que testemunhas até podem comprovar, mas não querem falar sobre isso. O narrador se defende, mas também assume suas falhas. Ele quer ter alguém pra desabafar e escolhe você. Puta merda! Como eu amo isso!

Quanto ao desenvolvimento não cabe a mim contar à vocês pois estragaria a experiência de leitura, mas o final... puta merda!, instiga reflexões e faz a gente questionar até que ponto somos corpo, alma e coração e não só mais uma cabeça por aí, sem rumo, sem corpo, sem alma... sem voz.

• A Cabeça na Cama tem elementos kafkanianos que me instigou a ler Franz Kafka (não é maravilhoso quando um livro faz isso?), uma pitada de nonsense e características da narrativa neofantástica — que propõe uma segunda realidade insólita na vida cotidiana. Leitura recomendada!