Por que muito se fala sobre o que os homens passam na guerra, mas pouco — ou quase nada — é dito sobre as mulheres?
“Alguns historiadores acreditam que entre cinquenta mil e duzentas mil mulheres coreanas foram sequestradas, enganadas ou vendidas como escravas sexuais para o uso dos militares japoneses durante a colonização da Coreia pelo Japão.” — Nota da autora
Herdeiras do Mar começa em 1943 quando a Coreia já vivia sob o domínio japonês há mais de 30 anos. A invasão, que só acabou em 1945, foi marcada pelas atrocidades mais cruéis e violentas do exército japonês: abusos físicos, psicológicos e sexuais, assassinatos, tortura e apagamento. Meninas e mulheres coreanas eram chamadas de “Mulheres de Consolo” e tinham que servir aos soldados japoneses em bordéis durante a Segunda Guerra. É neste cenário que conhecemos a história de duas irmãs: Hana, que foi sequestrada e obrigada a se tornar uma “Mulher de Consolo”; e Emi, que ficou para ser [e ver a família] devastada dentro do seu próprio país.
Na Ilha de Jeju, Hana, sua mãe e as outras mulheres do lugar eram mergulhadoras e forneciam o sustento de suas famílias e de toda a comunidade. Chamadas de "Haenyeo", elas seguiam a tradição milenar de mergulho sem cilindro em busca de animais para venda e consumo, assumindo, assim, o papel de provedoras de seus lares. Antes de Hana ser capturada, conhecemos um pouco dessa cultura que foi perdendo força devido à guerra, mas segue viva até hoje como símbolo de resistência das mulheres coreanas.
Em seu romance de estreia, Mary Lynn Bracht relata um dos momentos mais repugnantes da história da humanidade e escancara diante de nossos olhos a dura realidade da guerra para meninas e mulheres, realidade essa que não nos contam, não nos ensinam nas escolas e tentam, ao máximo, fazer com que caia no esquecimento. Livros como Herdeiras do Mar são como vozes que gritam em alerta: é preciso reconhecermos o passado para não cometermos os mesmos erros no futuro.
Recomendo fortemente a leitura, mas sugiro que ela seja feita em doses homeopáticas. Passei a maior parte das páginas com um choro preso, um nó na garganta e um medo incontrolável. Ainda há guerras acontecendo por aí e sei que para nós, mulheres, a guerra é sempre muito mais devastadora.
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