Um dos pontos mais assertivos de As Crônicas das Sombras, de Frances Hardinge, foi a originalidade ao trazer uma história que mescla um pano de fundo histórico, fantasia e uma pincelada no macabro que pode agradar bastante os leitores de vários gêneros.
Makepeace, a protagonista, tem apenas 12 anos no início da história e mora com sua mãe numa cidadezinha próxima a Londres chamada Poplar. A cidade é bastante cristã e todas as pessoas de lá têm nomes com conotação religiosa, por exemplo: Makepeace numa tradução literal significa fazedora da paz.
No entanto, mesmo que esse dom da protagonista seja algo bem marcante e crucial para o desenvolvimento de toda a história, As Crônicas das Sombras é um livro que, ao meu ver, pende muito mais para a fantasia young adult do que para uma história de terror, então quem tem medo de narrativas assim não precisa se preocupar, já quem gosta (assim como eu), vai curtir a experiência.
No entanto, essa não é a única surpresa de Makepeace. Existe um mistério sobre a identidade do pai dela que é o ponto de partida para o pano de fundo histórico que o livro aborda e essa foi a parte que eu mais gostei! A história se passa em meados do século XVII durante a Guerra Civil Inglesa entre o Rei Carlos I e o Parlamento e aqui a autora faz um trabalho brilhante nas entrelinhas que, ao meu ver, é repleto de significado: enquanto o parlamento e a monarquia vão às ruas reivindicar seus interesses, Makepeace trava uma luta interna por aceitação e sobrevivência.
"Se uma pessoa abandona o próprio orgulho, implora por algo com todo o coração e não é atendida, ela nunca volta a ser a mesma. Algo morre dentro de si, e algo diferente ganha vida."
Numa época em que o rei era visto como um enviado de Deus e tinha poder absoluto sobre tudo e todos, questionar a autoridade tanto dele quanto das famílias burguesas que o apoiavam era motivo de morte. Nesse contexto, Makepeace traz consigo um dom que não é nada cristão e entra em guerra contra aqueles que querem dominá-la. A forma como Hardinge trabalhou as questões de poder aqui, foram, na minha opinião, incríveis demais!
"(...) eu não dou a mínima. Por que deveria? Ninguém me mostrou por que motivo eu deveria morrer pelo rei, nem por que deveria amar o Parlamento mais do que a mim mesma! Eu quero viver! E tenho o mínimo de compaixão por quem só deseja viver também!"
Recomendo muitíssimo a leitura de As Crônicas das Sombras para leitores de fantasia, romance histórico e amantes do macabro.
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