Não foi preciso muito. Com pouco mais de 100 páginas Felicidade Conjugal me apresentou a escrita apaixonante e imersiva do Tolstoi e foi a melhor escolha que eu fiz para mergulhar na literatura russa.
Dividido em duas partes, Felicidade Conjugal narra, a princípio, o despertar do amor entre Macha e Sierguei. A moça, ainda muito jovem, desconhecia o amor e temia as sensações que o sentimento poderia causar. Por outro lado, Sierguei, um homem mais velho e já vivido, mesmo amando Macha, acreditava que o relacionamento seria difícil, uma vez que ele preferia aproveitar sua maturidade na tranquilidade de uma casa no campo, e ela teria as vaidades da juventude para desfrutar.
Mas o amor é um sentimento difícil de conter. Mesmo com os avisos de Sierguei, Macha jurou que não se importaria com a sociedade, nem com as grandes festas. Ela estava decidida a viver a vida ao lado dele e ao modo dele. Sendo assim, casaram-se e foram viver no campo. É a partir desse ponto que começa a segunda parte da história: Macha, que a princípio amava tudo no marido e a tranquilidade do campo, passou a se chatear com a calmaria dos dias, o tédio virou seu companheiro e nem o filho recém-nascido lhe trazia alegria. Quando ela finalmente conheceu a corte, a moça não quis saber de outra coisa. Sentia-se feliz, deslumbrante e revigorada com os elogios e com o luxo dos salões. Para ela, esse mundo novo e agitado alimentava sua vaidade e era a nova razão do seu prazer.
"Eu queria movimento, e não uma fluência tranquila da vida. Queria inquietação, perigos e sacrifício em prol do sentimento. Havia em mim um excesso de força, que não encontrava lugar em nossa vida sossegada."
Chateado com o comportamento da esposa, Sierguei deixava transparecer seu descontentamento, mesmo assim, deixava a esposa livre para realizar seus desejos. A partir desse ponto, acompanhamos o desenvolvimento de Macha e sua passagem de uma menina para uma mulher em busca do que realmente quer.
A história de Macha e Sierguei é um relato da beleza e da fragilidade de um relacionamento a dois. Em Felicidade Conjugal, Tolstoi narra uma história delicada sobre o amor, suas fases e seus processos de amadurecimento. Em alguns momentos, a história pode parecer um pouco triste, mas é profundamente real, sincero e transformador.
"O sentimento antigo tornou-se uma recordação querida, algo impossível de trazer de volta, e o novo sentimento de amor aos filhos e ao pai dos meus filhos deu início a uma nova vida, de uma felicidade completamente diversa, e que ainda não acabei de viver."
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