Ler O ANO DA GRAÇA foi uma das experiências mais maravilhosas e dolorosas que eu já tive com um livro. Minhas expectativas já eram altas, mas eu não imaginei que seria tão surpreendida a ponto de tocar o céu.
Estas palavras que estou escrevendo agora vão para vocês, mulheres, que já foram limitadas, silenciadas, oprimidas, subestimadas, desvalorizadas, atacadas, desmerecidas e ofendidas — unicamente — por serem mulheres. Quantas de nós já fomos proibidas de sonhar, instruídas a não nos comportarmos da forma que queríamos, orientadas a não usar a roupa que gostaríamos, a não cortar/pintar/usar o cabelo como bem entendíamos? Quantas de nós já nos envolvemos com pessoas que só sugaram nossa magia e depois nos descartaram com desprezo, com mentiras, com injúrias... Quantas de nós? Quantas mulheres já foram difamadas, excluídas, rejeitadas pela sociedade unicamente por fazer algo considerado normal para um homem? Quantas de nós já foram mortas, escondidas, jogadas por aí...? E quantas vezes, nós mesmas, já repetimos discursos opressores contra outras mulheres porque foi isso que nos ensinaram a fazer?
"É proibido. Nos dizem que temos o poder de fazer homens adultos saírem de suas camas, deixar garotos alucinados e enlouquecer as esposas de tanto ciúme. Acreditam que nossa pele emana um afrodisíaco poderoso, a essência potente da juventude, de uma menina à beira de se tornar mulher. É por isso que somos banidas aos dezesseis anos."
"Somos proibidas de sonhar. Os homens acreditam que os sonhos são uma forma de escondermos a nossa magia. Sonhar por si só já bastava para que eu fosse punida, mas se descobrirem com o que sonho, eu iria para a forca..."
Lembro-me da primeira vez que ouvi falar em sororidade... Essa palavra que diz tanta coisa e é tão difícil ainda de ser entendida. Lembro-me da notoriedade de movimentos como o #MeToo e o #VamosJuntas e outras hashtags que subiam no Twitter como #SomosTodas (e aqui era incluído o nome de uma mulher que estava sendo massacrada pela sociedade por fazer algo comum para um homem, mas inadequado para uma mulher). Lembro-me muito bem quanto eu tinha por volta de 18 anos de idade e me questionei se um dia aquilo acontecesse comigo, se as mulheres estariam ali por mim também.
Hoje — depois de algumas experiências, depois de conhecer outras mulheres e depois de leituras como O ANO DA GRAÇA — eu consigo não sentir mais tanto medo. Eu sei que em algum lugar do mundo, pelo menos uma mulher vai estar ao meu lado. Pelo menos uma vai segurar na minha mão quando a sociedade machista, misógina e patriarcal quiser me derrubar.
E eu também vou segurar a mão de alguém.
E esse alguém segurará a mão de outro alguém.
E formaremos uma linda corrente ao redor do mundo.
Uma corrente de força, poder, magia e sororidade.
Eu acredito — muito — que estamos no caminho certo.
E eu não vou desistir.
Assim como as meninas e as mulheres de O ANO DA GRAÇA.
Nenhuma de nós vai desistir.
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