Resenha | HEX, um terror psicológico de Thomas Olde Heuvelt



A pequena cidade de Black Spring vive isolada do resto do mundo devido a uma terrível maldição: uma bruxa impiedosa assombra a região e sussurra o mal por onde passa. Há um tempo atrás, alguns moradores conseguiram costurar os olhos da bruxa para evitarem o mal olhado, e a boca, para não ouvirem as palavras da morte. Costurada e com as mãos acorrentadas, Katherine Van Wyler tornou-se, então, inofensiva.

Ainda assim, para vigiar os passos da bruxa e impedir a entrada de Forasteiros, a comunidade criou o #HEXapp, um aplicativo de celular que monitora as aparições de Katherine. Não sendo ainda o bastante, câmeras de vigilância estão por toda a cidade. Quando um grupo de jovens se rebela para testar a bruxa, a paz local é ameaçada. Vocês conhecem o ditado "não se mexe com quem está quieto", e Katherine não está para brincadeiras.

Eles estão de olho em você.
Não provoque a bruxa.
Haja o que houver, não abra os olhos dela.

"Você pensou, não foi? Você a ouviu sussurrando, e começou a brincar com a ideia de se machucar. É assim que ela pega você. Faz as pessoas se matarem, assim como ela própria foi obrigada a fazer."


A construção narrativa de HEX, na minha humilde opinião, assemelha-se com a do Stephen King. O início é lento, mas já no primeiro capítulo, fui surpreendida pela rotina dos moradores em Black Spring. Gradativamente fui me sentindo parte da história; torci, xinguei, senti calafrios e medo como se eu também estivesse ali à mercê da bruxa. Eu considero o ponto forte de HEX o autor escrever sobre a perspectiva de quem morava na cidade, e não sobre os forasteiros. É brilhante a construção e a desconstrução do equilíbrio entre eles enquanto são conduzidos ao caos que os espera logo adiante.

Mas por que as pessoas não saem da cidade?
Por que todos evitam a entrada de forasteiros?
Por que a bruxa precisa ser monitorada?
As respostas para essas perguntas são aterrorizantes.

"A humanidade já provou inúmeras vezes que tem uma tendência a atravessar barreiras que não deveria. E temos toda a razão para acreditar que se seus olhos se abrirem e ela começar a pronunciar seus feitiços, todos vamos morrer. É por isso que nós a mantemos fora das vistas. Ela não quer ser compreendida - ela não deve ser compreendida. Katherine é uma bomba-relógio paranormal."

HEX é um livro que eu já esperava gostar bastante! O terror é psicológico e as pitadas de horror vão acontecendo de pouco em pouco até explodir num perfeito gran finale! Com referências a Stephen King, cultura pop, boas doses de tecnologia e ainda contexto histórico, HEX é uma obra que eu recomendo sem pensar duas vezes! E se você ainda não está 100% convencido a ler essa obra prima, eu vou listar abaixo as cinco coisas que mais gostei em HEX:

1. CAOS

Adoro livros que abordam o caos na população. Quando um evento desolador acontece em Black Spring, as pessoas perdem a noção do certo e errado, agem como irracionais, são cruéis e revelam aquilo que realmente somos sem a civilização, sem leis e sem regras: selvagens.

2. O CONSTRASTE

É nítido e assustador o contraste da história no primeiro capítulo e no último. Adorei a forma como Thomas Olde Heuvelt conduziu seus personagens para o abismo dentro deles mesmos.

3. A BRUXA

Katherine é uma bruxa que mexeu com o meu lado mais humano enquanto eu estava lendo. Todos os eventos que a levaram a ser o que é, fez com que eu olhasse para ela como mais uma vítima da intolerância humana. Katherine rainha, o resto nadinha.

4. AS REFERÊNCIAS E INSPIRAÇÕES

Acredito fortemente que Stephen King inspirou a criação de HEX. Quem já leu O Cemitério (ou assistiu ao filme) vai perceber a homenagem do Thomas para o Mestre do Terror. Além disso, em HEX há um personagem chamado Colton Mathews, mesmo nome de um ministro que viveu na Inglaterra na época da caça às bruxas em Salem. Outra referência que eu adorei foi à série de TV True Blood (melhor série de vampiros do mundo!).

5. O FINAL

Se tem desgraçamento, me chama que eu vou. O desfecho de HEX me deixou de boca aberta. Li três vezes as últimas linhas porque estava sendo difícil acreditar e digerir. Achei sensacional! Aliás, se você não enlouquecer por causa desse final, algo de errado não estará certo.


Thomas Olde Heuvelt entrou para a minha lista de autores que eu vou querer ler assim que lançar algo novo, do mesmo jeito que HEX entrou para a lista de melhores leituras de 2018. Livro mais do que recomendado! E cuidado com a bruxa... 

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