Resenha | O Livro do Juízo Final, de Connie Willis


O ano é 2054 e viagens no tempo são totalmente possíveis. Historiadores de universidades realizam esses procedimentos para fins de pesquisa, mas quanto maior for a distância em tempo, mais difícil fica voltar para o presente. Todavia, tais dificuldades não impedem a historiadora Kivrin de viajar para 1320 — ano da Idade MédiaDecidida, Kivrin aprende tudo que acredita ser necessário para conviver numa das épocas mais obscuras da história da humanidade.
"Ela está a setecentos anos de casa, pensou Dunworthy, num século que desdenhava das mulheres a ponto de nem anotar seus nomes quando morriam."
Com tudo pronto, no dia da viagem o sentimento de insegurança ainda domina toda a equipe. Os riscos são diversos e não há nada nem ninguém que tire a ideia da cabeça de Kivrin. Sendo assim, ela consegue dar o salto no tempo, volta ao passado, mas algo se complica no presente. Uma estranha doença se alastra, dando origem a uma epidemia misteriosa. De onde veio esse vírus? É nesse momento que conflitos, dúvidas e conspirações começam a acontecer. O técnico cai doente, e Kivrin — que já está em seu destino — também começa a apresentar os sintomas da doença misteriosa. Sabe a lei de Murphy? O que pode dar errado, dará. E foi justamente isso que aconteceu.
"O som era amedrontador, mas o silêncio é pior. É como o fim do mundo."
E quanto a Kivrin? Lá no passado, ela é acolhida por um casal que cuida dela na medida do possível. Mas, algo está errado. Muito errado. Mesmo tendo estudado incansavelmente, a historiadora não consegue entender nada do que as pessoas ali dizem, e precisa desenvolver uma forma de comunicação urgentemente.  Nos primeiros sinais de recuperação de sua saúde, Kivrin faz uma terrível descoberta que pode mudar o sentido de toda a viagem: Ela está no lugar certo, porém no ano errado. Kivrin não está em 1320. Ela está em 1348 — período de surto da Peste Negra! Foi nessa hora que eu segurei na cadeira e quase dei um grito!


Voltando ao presente, comecei a notar acontecimentos e comportamentos não tão diferentes da minha realidade. Assustados com a doença misteriosa, as pessoas entram uma onda de protestos e tudo vira um caos. O técnico da operação é acusado de ter trazido a doença, não somente por ter sido o primeiro a apresentar o sintomas, mas também por ser indiano. Até onde vai o preconceito da humanidade? Com um excelente contexto histórico, debates sobre religiosidade e a abordagem do poder da amizade, a história me fisgou e foi impossível não ficar encantada.
"Às vezes a gente faz tudo por uma pessoa, mas isso não basta para salvar a vida dela."
O livro do juízo final é uma obra excelente e conhecer a escrita de Connie Willis foi um presente mais do que especial. Eu que estou começando a dar os primeiros passos no mundo da ficção científica tenho sido surpreendida positivamente cada vez mais. Recomendo sem pensar duas vezes tanto para fãs do gênero quanto para iniciantes, como eu! A única ressalva que preciso fazer é sobre a diagramação. A edição em capa dura da Suma de Letras está lindíssima, mas a fonte — para mim — é pequena e o espaçamento entre linhas também, de modo que eu tive que interromper a leituras algumas vezes para descansar as vistas. Fora isso, o livro enche os olhos! É bonito por fora e riquíssimo em conteúdo por dentro.

NOTA: 5/5 | SKOOB | COMPRE

Sinopse: Para Kivrin, que se prepara para um estudo de campo em uma das eras mais mortais da história humana, viajar no tempo é tão simples quanto tomar uma vacina desde que seja uma vacina contra as doenças encontradas na Idade Média. Já para seus professores, isso significa cálculos complexos e um monitoramento constante para garantir o reencontro. No entanto, uma crise de proporções inimagináveis pode colocar o futuro de Kivrin, e de todo o Reino Unido, em perigo. Seu professor mais próximo, o sr. Dunworthy, fará de tudo para resgatá-la. Mas até que ponto é possível desafiar a morte. De 1300 a 2050, Connie Willis faz um trabalho magnífico na construção de personagens complexos, densos e pelos quais é impossível não sentir empatia. O livro do juízo final é ao mesmo tempo uma incrível reconstrução histórica e uma aula sobre o poder da amizade.

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