O Diário de Myriam | Trechos marcantes de uma voz quase silenciada pela guerra


Myriam é uma garotinha síria que vê seu mundo virar de ponta cabeça e explodir em meio a uma guerra que ela não entende o por quê. Myriam tem 13 anos e relata de forma sincera, inocente, e comovente a visão de um lugar que já foi bonito, porém hoje se resume a poeira, solidão, medo e cinzas. O DIÁRIO DE MYRIAM, venceu o Prêmio L’Express-BFMTV 2017 na categoria Ensaios e faz parte da linha Crânio da DarkSide Books. Abaixo, destaquei trechos que me comoveram e tocaram meu coração:
"Tenho treze anos. Cresci rápido, rápido demais. Sei reconhecer as armas, sei reconhecer as bombas. Sei quando é preciso se esconder e como se deve esconder. Mas, principalmente, sei o que é a morte. A perda de pessoas que se ama, e o medo de morrer. Eu me vi encurralada em um conflito sem nome, sem palavra para as crianças. Não o entendi. Falava-se de guerra civil, falava-se de bombardeios russos, de coalizão internacional. Para mim, era só medo, tristeza, angústia. E as lembranças de uma vida de antes que não recuperarei nunca mais."
"Alepo é uma cidade fantasma.Não tem ninguém. Ás vezes, há senhoras de preto que correm do lado de fora, ou pessoas armadas. Mas só isso. Quando a gente abre as janelas, não tem um barulho de vida sequer. Não existe flores, não existem cores e até os pássaros já nos deixaram."
“Os a acontecimentos em Alepo não foram nada além de primeiras vezes. Com o sequestro de Fadi foi a primeira vez que vi mamãe chorar. E foi a primeira vez que ouvi um tiro de verdade.”
“Não tem bombardeios hoje. Está quase calmo. Mas, ainda assim, não fomos para a escola. […] Papai diz que o presidente americano e o presidente francês querem nos bombardear e guerrear com a gente. Não entendo por que eles querem nos bombardear ainda mais.”
"Para mim, da minha infância, só resta uma caixinha amassada."
"A catedral maronita da cidade foi atingida e destruída. Parece que todo o teto caiu. Aqui, até mesmo Deus não tem mais casa."
“Mamãe teve uma ideia: nós separamos tudo o que tínhamos e que não usávamos mais. Vasculhei tudo o que era meu, mas não encontrei grandes coisas. Tudo ficou em Jabal. Mesmo assim, encontrei um ursinho de pelúcia que tinham me dado, alguns cadernos de rascunho e canetinhas coloridas, mas secas. A gente colocou tudo na lareira para se esquentar na frente dela. Em geral, ali dentro, a gente coloca óleo combustível, mas não tinha e a madeira estava muito cara. Então, a gente queimou o ursinho. Ficamos sentados na frente da lareira durante horas. Era bom ficarmos todos juntos em torno da lareira, nos mantendo quentinhos, e a gente ficou com menos medo do barulho das bombas”
"Adoraria que um dia as estrelas da minha bandeira fizessem parte de uma constelação e pudessem ser vistas por qualquer pessoa de qualquer parte do nosso planeta.”






Sinopse: De um lado, uma menina judia que passou anos escondida no Anexo Secreto tentando sobreviver à guerra de Hitler. De outro, uma garota síria que sonha ser astrônoma e vê seu mundo girar após a eclosão de um conflito que ela nem mesmo compreende. Mesmo separadas por mais de setenta anos, Anne Frank e Myriam Rawick têm um elo comum: ambas são símbolos de esperança e resistência contra os horrores de um país em guerra e acreditam no poder das palavras. ‘O Diário de Myriam’ é um registro comovente e verdadeiro sobre a Guerra Civil Síria. Escrito em colaboração com o jornalista francês Philippe Lobjois, que trabalhou ao lado de Myriam para enriquecer as memórias que ela coletou em seu diário, o livro descortina o cotidiano de uma comunidade de minoria cristã que sofre com o conflito através dos olhos de uma menina. Assim como acompanhamos a Segunda Guerra Mundial pelos olhos da pequena Ada em A Guerra Que Salvou a Minha Vida e A Guerra Que Me Ensinou a Viver, O Diário de Myriam apresenta a perspectiva de uma menina que teve sua infância roubada ao crescer rodeada pelo sofrimento provocado pela Guerra da Síria, iniciada em 2011. Myriam começou a registrar seu cotidiano após sugestão da mãe, que propôs que ela contasse tudo aquilo que viveu para, um dia, poder se lembrar de tudo o que aconteceu. Escrito entre novembro de 2011 a dezembro de 2016, o diário alterna entre as doces memórias do passado na cidade de Alepo e os dias doloridos e carregados de incertezas. E é com a sensibilidade de uma autêntica contadora de histórias que ela narra a preocupação crescente de seus pais com as notícias na tv, as pinturas revolucionárias nos muros da escola, as manifestações contra o governo, a repressão, o sequestro de seu primo e, por fim, os bombardeios que destroem tudo aquilo que ela conhecia.
Livro recebido em parceria com a DarkSide Books. 

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