Resenha | A Incendiária, de Stephen King



Em A Incendiária, o mais recente título do Mestre do Terror a fazer parte da coleção Biblioteca Stephen King da Editora Suma, King nos presenteia com uma personagem tão especial que dá vontade de pegar no colo, proteger e cuidar. Charlie é uma garotinha de 7 anos capaz de tacar fogo em tudo e em todos apenas com o poder da mente, ou seja, ela tem pirocinese. Fruto de um relacionamento em que ambos os pais se submeteram a um "teste do governo" e também desenvolveram habilidades, a garotinha agora tenta sobreviver ao lado do pai, Andy, numa fuga alucinada contra os agentes da Oficina.

O que será que eles querem fazer com Charlie? Mais testes? Matá-la? Usá-la como uma arma? Uma bomba?

“Você é uma incendiária, querida. É como um isqueiro Zippo enorme.”

As páginas iam passando e eu ficava aflita, cada vez mais contagiada pelo drama dos personagens, vibrando nas fugas, torcendo pela vitória e gritando UHUUU quando Charlie tacava fogo em alguma coisa! Eu me empolguei pra valer (acho que é nítido nessa resenha, inclusive. rs). Como sempre acontece nos livros do Stephen King, a narrativa vai sendo construída lentamente (embora A Incendiária, na minha opinião, não tenha sido um livro lento se comparado com outros do autor) com exagero de detalhes em algumas partes, mas que de forma alguma atrapalharam a minha experiência de leitura. Cada descrição é muito bem aproveitada por Stephen King.


Aqui eu consegui ver claramente as inspirações que deram vida à Eleven de Strangers Things e foi tão maravilhoso pensar "ei, Charlie, a Eleven se parece com você"; assim como também vi semelhanças entre Charlie e Carrie (de Carrie, a Estranha), mais um motivo pra que esse livro se tornasse especial pra mim (saiba mais).  Misturando suspense e ficção científica, A Incendiária é um livro que faz pensar até onde podemos chegar para remediar nossos erros e até quando somos capazes de lutar por aquilo que queremos. Eu curti muita coisa dentro da história e é difícil, confesso, pontuar todas elas sem sucumbir à vontade de gritar UHUUUU QUEIMA TUDO CHARLIE! No mais, enfatizo mais uma vez a construção dos personagens que Stephen King faz com maestria. Para mim, esse é o ponto forte de todas as suas obras.

"E ela gostara daquilo. Era isso, esse era o problema. Quanto mais fizesse, mais gostaria; quanto mais fazia, mais podia sentir aquele poder, aquela coisa viva, tornar-se cada vez mais forte. Era como uma pirâmide invertida, pousada no seu vértice. Quanto mais fazia aquilo, mais difícil era parar. Doía parar."

Outra coisa que acho válido ressaltar é que a conotação sexual que senti em algumas partes se confirma no texto de apoio de Grady Handerson no final do livro. Não quero me estender nesse quesito porque foi apenas uma interpretação particular de pequenas coisas que "peguei no ar". Entretanto, acredito que A Incendiária é muito mais do que uma obra sobre repressão/liberdade sexual (como sugere outras interpretações que encontrei). Para mim, o livro é sobre liberdade num contexto geral. Ser livre pra ser quem você é, mostrar-se ao mundo e fazer uso do direito de ir e vir. Mas é claro que cada leitor pode (e deve) tirar suas próprias conclusões. Por isso eu recomendo muitíssimo A Incendiária pra todos que já curtem a escrita do Stephen King.

"Existem forças soltas neste universo que ainda não conhecemos, e algumas que só podemos observar a uma distância de anos-luz... e dar um suspiro de alivio graças isso."



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