Muita reflexão e aprendizado em 'Quinze Dias', de Vitor Martins


Esse é um daqueles livros que por si só já dizem tudo,
por isso é tão difícil escrever sobre ele. Mas eu vou tentar!

“É difícil acreditar que alguém realmente gosta de você quando você passa a vida escutando que é um gordo nojento. É difícil acreditar que você pode ser feliz com alguém quando você passa a vida escutando que ser gay é errado e seu destino é queimar no inferno”.

Em Quinze Dias, o autor aborda temas muito relevantes na sociedade através de uma linguagem bem simples, misturando toques de bom humor com momentos de seriedade que levantam questionamentos nos fazem pensar. Focando na gordofobia, mas também falando sobre racismo, machismo e homofobia, Quinze Dias me arrancou lágrimas. Os personagens são tão reais que eu me enxerguei em todos eles. Caio, Felipe, Becca, Mel... Todos carregam um pouco de mim e, por isso, conhece-los foi tão especial.

"(...) Porque "gordo" é o tipo de palavra que as pessoas tentam esconder a qualquer custo. Todo mundo diz "fofinho", ou "forte", ou "grande", ou "cheinho", mas nunca GORDO, Gordo é uma palavra sem volta, Quando você afirma uma coisa, por mais que ela esteja clara pra todo mundo, ela se torna real."


Já parou pra pensar que as poltronas do cinema não são para gente gorda? Que nem todos os ônibus têm cadeiras para gordos? Já notou que é "normal" uma pessoa magra falar de comida, mas se é um gordo quem fala, as pessoas olham estranho ou fazem piadas? Você lembra quantas vezes já ouviu "tem um rosto lindo, deveria emagrecer" mesmo que esses comentários não sejam destinados a você? Já notou que meninos gordos na infância são vistos como fofinhos, mas as meninas não? Sempre tem alguém pra dizer que ela "precisa" ou "deveria" emagrecer pra não ficar feia. Já reparou naqueles bonequinhos de decoração das profissões? Quantos deles são negros? 

“Quando eu tinha oito anos minhas tias já insistiam em me colocar numa dieta. Quando você é mulher, ser gorda nunca é fofo. Você precisa ser sempre magra”.

Quinze Dias me fez pensar em tudo isso e me deixou com o coração apertado, para depois me preencher com esperança. Quem nunca se sentiu desconfortável com seu próprio corpo? Quem nunca quis ser diferente? Eu já quis! Mas Quinze Dias fez eu me amar mais. Vitor Martins escreveu uma linda história recheada de representatividade: tem gente gorda, negra, gay, lésbica... Personagens reais que saltam das páginas e abraçam a gente, aquecem o nosso coração e nos inspiram. Em Quinze Dias aprendi que o que importa mesmo é nos sentirmos confortáveis em nossa própria pele, porque quem usa uma blusa ou um shorts ao entrar na piscina não teme o próprio corpo, mas sim as piadas de mau gosto, os olhares e as ofensas disfarçadas de "opinião".

“Eu já assisti a comédias românticas e frequentei a terapia por tempo demais para saber que minha felicidade não pode depender de outra pessoa. Mas ainda assim eu queria ter alguém que me chamasse de Vida e me convencesse a entrar na piscina e dissesse que me ama baixinho, de um jeito que só dá pra ouvir bem de perto”.

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