Oscar Wilde e a importância de O Retrato de Dorian Gray

Dorian Gray é um belíssimo rapaz de coração puro que teve seu retrato pintado pelo renomado pintor, Basil Hallward. Este, nutria um sentimento de amor incondicional por sua obra e se negava a expor em galerias, pois, para ele, seria o mesmo que expor sua própria alma.

 

“Para voltar à juventude, devemos simplesmente repetir as nossas loucuras”.

 

Até que um dia, aparece Harry, um amigo de Basil, com sua personalidade dada aos prazeres da vida disposto a mostrar um outro mundo ao inocente Dorian. Fortemente influenciado pelo discurso sedutor de Harry, Dorian Gray se deixa corromper. Percebendo que poderia conseguir tudo que desejava graças à sua beleza, Dorian cai em desgraça ao considerar injusto que um dia vá envelhecer. Movido pela ganância, ele amaldiçoa a si mesmo, sela um pacto de juventude eterna enquanto todos os horrores que passa a praticar são refletidos no retrato - uma metáfora à degradação da alma de Dorian.

 

"Mas, hoje em dia, as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram-se das mais elevadas obrigações, a obrigação que devemos a nós mesmos. Mas, é claro, são caridosas. Alimentam os famintos, vestem os mendigos. Suas próprias almas, entretanto, sentem fome, estão nuas".

 

Críticas à sociedade da época e ao falso moralismo e a presença de personagens homossexuais fizeram de O Retrato de Dorian Gray um marco na literatura mundial, sendo considerado, até hoje, um clássico escandaloso. A beleza da escrita de Wilde e o requinte para expor a podridão humana, me envolveu até a última página.

 

"[…] gente extremamente antiquada que não se dera conta de que vivia em uma época em que as coisas desnecessárias eram as únicas necessidades […]"

 

"A civilização não é, de maneira alguma, coisa fácil de se atingir, e há apenas duas maneiras por que o homem é capaz de alcançá-la. Uma delas, é sendo culto, e a outra, sendo corrupto."

Publicado pela primeira vez para a Revista Lippincott’s Monthly, o editor chegou a fazer recortes e alterações no conteúdo da obra (mais de 500 palavras foram retiradas) para "amenizar" o impacto, mas mesmo assim a reação foi de choque e impacto na sociedade. Oscar Wilde — que já era escritor renomado e dramaturgo — foi denunciado por sodomia e práticas indecentes (na época, ser homossexual era crime) pelo pai do jovem lorde por quem ele estava apaixonado. O Retrato de Dorian Gray foi usado contra ele no julgamento que o condenou a dois anos de prisão. Surdo e quase cego, Wilde ainda chegou a a escrever mais duas obras nesse período, sendo uma delas epistolar.

Inspirado no conto de Narciso, O Retrato de Dorian Gray é muito mais do que uma história polêmica para a época. É uma obra verdadeira, crua, real e representativa. Eu amei esse livro, não só pela história, pelo enredo e pelos personagens, mas também por tudo que ele representa. Por tudo o que ele foi, e por tudo que ainda é.

"As pessoas gostam muito de dar o que elas mesmas precisam muito [...] sabem o preço de tudo, mas não sabem o valor de nada."

- A tradução do texto original sem os recortes foi publicada aqui no Brasil pela Editora DarkSide Books.

Sinopse: Publicado em sua versão final em 1891, O retrato de Dorian Gray foi o primeiro sucesso literário de Oscar Wilde e, algo que se tornaria frequente durante a curta carreira do autor, motivo de grande escândalo. Exemplo extremo de um indivíduo que leva uma vida dupla, seu protagonista comete todo tipo de atrocidade enquanto mantém uma aparência intocada de beleza e virtude. Seu segredo, porém, está materializado em um retrato guardado em uma sala trancada, que reflete fisicamente as deformações de seu caráter. Ao longo da década em que Wilde conviveria com doses idênticas de fama e infâmia, seu único romance foi usado como parâmetro tanto de sua capacidade artística como de sua total inadequação à sociedade em que vivia.