Os trechos mais emocionantes de Só os Animais Salvam, de Ceridwen Dovey


"Pensei por muito tempo na jornada do cão de volta à casa, tentando imaginar cada etapa e, desejei ser um cachorro para poder sobreviver a essa viagem de volta a Paris, ainda que ela não me quisesse mais, mesmo que tivesse se tornado séria com minha ausência, junto a todos que vislumbram um futuro de desamparo." | Alma de gata, pág 41.

"– Mas há milhões e milhões de mexilhões no mundo, eu sou um só – respondi.
– É, mas você é um mundo por si só, assim como eu. Somos todos pequenos mundos.” | Alma de Mexilhão, pág 106.
 
"Mas solidão é diferente, e solidão feminina, quando por opção, pode ser uma felicidade." | Alma de Tartaruga, pág 118.
 
"Você precisa ler isso, pregavam, esquecendo que o fato de terem esbarrado naquele livro por acaso – por terem-no encontrado abandonado em um coche, ou empoeirado no sótão, ou ignorado em uma estante perdida na biblioteca – era parte do que lhe dava poder.” | Alma de Tartaruga, pág 120.



“Foi então que a solidão se uma morte certa me atingiu. Eu não sabia como morrer, como se morria. Em sua depressão pré-suicídio, Virgínia (Wolf) recitara para si as palavras de Montaigne: ‘Caso não saiba como morrer, não se importe; a natureza, em seu tempo, o instruirá de modo pleno e adequado; tomará ela mesma esse dever, não se incomode’. Eu passava a vida na companhia de escritores que encontraram seus meios de chegar à solidão perfeita: um eremita, um suicida, um vagabundo, um vanguardista solitário; escritores que reconheceram em mim seus desejos contraditórios de nunca serem abandonados, de sempre estarem sozinhos. Após a primeira fagulha de criação, todos somos deixados sem lar, cada criatura sobre a Terra.” | Alma de Tartaruga, pág 144.

“Isso era apenas uma desculpa para a perversidade. Não tenho nada contra perversão por si mesma, mas os homens – golfinhos ou humanos, e nisso somos iguais mais uma vez – tendem a tecer uma rede intricada de justificativas em torno de suas más ações, e é isso que me enlouquece.” | Alma de Golfinho, pág 191.

“Mas nós somos especiais, seus homens afirmam, somos um caso especial entre os animais. Então eu pergunto de volta: vocês podem usar ecolocalização para saber exatamente onde o solo do oceano faz curvas, em todas as direções concebíveis? São capazes de atordoar a criatura que querem comer, apenas com o som? Podem sondar os corpos de suas extensas famílias e dizer imediatamente quem está grávida, quem está doente, quem foi ferido, quem almoçou o que? O formigamento que muitos humanos sentem quando nos encontram não é por causa da endorfina, mas sim porque os escaneamos para conhecê-los em todas as dimensões. Vemos através de você, literalmente. Um caso especial, de fato. Talvez vocês devessem estar se fazendo outras perguntas. Por que às vezes tratam outras pessoas como humanos, às vezes como animais? E por que às vezes tratam criaturas como animais, e outras vezes como humanos?” | Alma de Golfinho, pág 192.


“Pensei comigo: porque vocês se sentem perseguidos por nós? Da vaga sensação de estarem sendo alvo de chacota até o extremo oposto, até o horror ao reconhecimento, até o terror de serem expostos pelo que realmente são. Qual a utilidade de uma consciência de si quando tudo que ela faz é criar a sensação de cerco constante?” | Alma de Golfinho, pág 210.

"Reconhecemos em vocês o que seus ancestrais costumavam enxergar em nós, muito tempo atrás, tomando-nos por sagrados e punindo com a morte o assassinato de um golfinho. Pensavam em nós como os seres mais próximos do divino (...) e em troca, por milênios, quando encontramos um humano se afogando nós o erguemos à superfície, assim como fazemos com nossos recém nascidos, esperando até que comece a respirar. Colocamos nossos corpos entre os seus e os tubarões à espreita. Temos nadado junto a seus jovens, junto aos doentes. Saudamos vocês com saltos no ar. Vocês não deveriam ter esquecido a sabedoria de seus próprios ancestrais." | Alma de Golfinho, pág 214.

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